segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Ações industriais para a venda de remédios


(Texto ñ corrigido)

A ordem é a mais antiga preocupação da filosofia política e, se é plausível cotejar a ‘polis’ com o organismo, então é plausível cotejar a desordem civil com uma doença. As formulações clássicas que comparam uma desordem política a uma doença – de Platão a, digamos, Hobbes – pressupõem a idéia médica (e política) clássica de equilíbrio. A doença vem do desequilíbrio. O tratamento se destina a restaurar o correto equilíbrio – em termos políticos, a correta hierarquia. (SONTAG, 1994, p. 96)
Nos anos 20, Santa Catarina vivia tempos modernos, tempos de muitas chegadas tecnológicas importantes, o cinema, a ferrovia, e as grandes indústrias.
Por causa desse progresso as indústrias farmacêuticas no Brasil começaram muito fortes, do Rio de Janeiro sua logística ganhou outros estados e chegando a Santa Catarina; mergulhou de cabeça nas campanhas de publicidade como todo o Brasil. Jornais locais e regionais começaram a ganhar muito com a novidade.
As campanhas diziam que indigestões, pesadelos, dores de cabeça, vômitos e insônias eram combatidas com apenas uma pílula. A verdade dessa receita milagrosa não é clara, mas as campanhas vendiam muitas promessas que não poderiam ser cumpridas. Isso é um fato.
O condicionamento psicológico que as campanhas publicitárias cumpriam na época vem sendo usadas até hoje, as subjetividades humanas evoluíram, e com essa evolução os anúncios também.
Psicólogos importantes como Maria Cristina Strocchi e Donald A. Norman afirmam que todas as compras vêm do inconsciente, ou seja, toda compra é extremamente emocional. Desse ângulo podemos afirmar que é uma estratégia muito eficaz vender remédios milagrosos em tempos que existiam doenças complexas para os médicos. A população aceitava os remédios vendidos pelos fabricantes, pois não era uma obrigação, mas sim uma ajuda que poderiam ter. Ao menos essa era a mensagem. Já as campanhas do governo eram vistas de outra forma. A população mais carente via como uma doença implantada pelo governo para eliminar os pobres, a vacina contra a varíola era obrigatória, essa imposição é conhecida até hoje como a revolta da vacina.
A gripe hoje viaja por aviões, as notícias propagam-se quase em tempo real, as pessoas morrem principalmente em hospitais, em sua maioria péssimos mas integrados a uma rede de instituições médico-sanitário muito mais densa que a de 1918-1919, e, de uma forma ou de outra, mobilizada pela saúde pública internacional, incipiente na epidemia anterior. Essas realidades novas não impediram a repetição de práticas médicas e comportamentos sociais que nos aproximam daquela outra crise sanitária, muitíssimo mais grave. As novas realidades incluem a virologia, disciplina então inexistente, e o conhecimento muito sofisticado dos vírus causadores dos vários tipos de gripe que acometem os hospedeiros humanos e outros vertebrados. Isso traz a reboque medicamentos que não existiam e a perspectiva próxima de uma vacina, que não se conseguiu fazer com os recursos proporcionados pela microbiologia de 19187, ainda que ela tenha contribuído para reduzir o papel das doenças na Primeira Guerra Mundial, deixando o morticínio a cargo, sobretudo das armas, do engenho e da maldade humanas. (Alvarez, Adriana et al. )

O mundo da época passava por período de mudanças, a Europa saia da I Guerra Mundial o Brasil por sua vez vivia processo de urbanização e tentativa de melhoria da saúde pública, por este motivo negava-se, no meio médico e entre autoridades, inclusive as brasileiras, o real tamanho da epidemia e sua gravidade para a população brasileira.
“Como saber quantos morreram? O governo não ia dizer o número verdadeiro dos mortos para não alarmar. Até hoje, ninguém sabe ao certo”¹ , sem contar com o que já foi exposto: a ciência da época não estava preparada e não teve tempo para identificar as causas e muito menos indicar um tratamento eficaz para a Gripe, há registro em São Paulo de um médico que indicou até injeção a base de mercúrio puro

¹ NETTO, Francisco Bettega. O Mez da Grippe. Curitiba, 1981. 35 p.

 como tratamento, por isso “muitas das mortes que provavelmente foram causadas pela Gripe não foram registradas como tal, outras doenças ou causa não identificada” ², sem contar que na época foram dados diversos nomes diferentes a doença: Epidemia reinante, peste, gripe epidêmica etc. (Rodrigo Rosa, p 04)
No Brasil, a Gripe Espanhola de 1918 assim como outras epidemias do final do século XIX e começo do século XX, mostraram que as cidades estavam à mercê das doenças, pelo fato de não ter um estrutura de saúde pública adequada.
Em vários momentos da história os homens sofreram com doenças que se opuseram contra o homem de forma agressiva, e tudo por causa do baixo nível de conhecimento de saúde. Desta maneira as campanhas publicitárias aplicavam sua composição no primeiro plano de motivações, o primeiro plano consiste pelas motivações inatas, de natureza biológica, como a fome, sede, sono, atração sexual. Quando estamos doentes, por exemplo, o corpo manda vários sinais movendo uma ação inconsciente de se tratar, acontece o mesmo quando a gente precisa comer, as pessoas sabem que estão com fome pelo mesmo motivo.
É nessa época que a sociedade brasileira começou a se sentir a vontade de se automedicar, fazendo tudo conforme a sabedoria popular, que muitas vezes eram introduzidas pela mídia, seja ela feita pelo boca a boca ou pelas campanhas em veículos de comunicação. Hoje nós somos campeões em se automedicar, muitas vezes erroneamente. A Associação Brasileira de Indústrias Farmacêuticas, a ABIFARMA anuncia em 2012 que 20 mil pessoas morrem todo ano por conta da automedicação. Assim podemos observar que desde o começo das indústrias farmacêuticas, não há uma espécie de conscientização da população sobre esses problemas, porém não podemos esquecer-nos das parcelas de culpa que a mídia, o estado e as indústrias têm sobre essas mortes, pois os grandes veículos de comunicação no Brasil não dão nenhum retorno sobre essas estatísticas, e, o motivo é o mesmo do começo do século XX, a fortuna financeira que recebem.
As afirmações do Dr. Drauzio de que temos apenas testes in vitro é certamente uma falácia, demonstrando má intenção clara, cuja origem não se sabe, mas pode ter viés político-eleitoral ou mesmo comercial, frente a algum possível segmento que se sinta incomodado em relação às perspectivas abertas com a oficialização da fitoterapia no SUS. (FEBRAPLAME)

² Op Cit. 32 p. (tese)


O estado que não se pronuncia por muitas vezes em relação à mídia, que faz de seus esforços irem por água a baixo, A Rede Globo, por interesse econômico com as indústrias farmacêuticas manifestou-se contra o incentivo do governo federal para os remédios fitoterápicos através do Dr. Drauzio Varella. Entre outros exemplos que circulam por baixo dos panos da mídia, esse é o mais patético, o governo por sua vez não se pronuncia diante do prejuízo e assim joga anos de investimentos no lixo.
A indústria por sua vez, se sai como a moçinha da história, uma vez que só está ali para ajudar. Suas publicidades com ênfase em bem estar, sempre usando algum personagem popular e os mais diversos meios de comunicação, tornando-se uma unidade bem segmentada, comum, em todas as camadas sociais do Brasil.
O melhor caminho é a conscientização da população da fase de aprendizagem básica, hoje a projetos contra a violência e as drogas, porque não projetos contra a automedicação no Brasil? O estado deve fazer algo, seja no âmbito social pedagógico, social industrial e/ou midiático, o importante é não deixar de fazer para que mais mortes sejam registradas por culpa de irresponsabilidades distintas.



Referência

A Cidade, Blumenau, Janeiro a Dezembro, 1937
A Cidade, Blumenau, Janeiro, Julho a Dezembro, 1926
A Cidade, Blumenau, Janeiro a Dezembro, 1930

Opinião da FEBRAPLAME, Federação das Associações de Pesquisa com Plantas Medicinais, Sobre os Comentários do Dr. Drauzio Varella na Imprensa. São Paulo: ABH, Outubro, 2010. Disponível em: <http://www.abhorticultura.com.br/informa/Default.asp?id=7707> Acesso em 08 de novembro de 2012

Governo incentiva distribuição de medicamentos fitoterápicos pelo SUS. São Paulo: Amaivos, Uol. Disponível em: <http://www.isaude.net/pt-BR/noticia/30457/saude-publica/brasil-registra-20-mil-mortes-causadas-por-automedicacao-anualmente> Acesso em 10 de novembro de 2012

Sbstrndade, Dr. Drauzio mostra o químico Frazão que fabrica produtos à base de plantas. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=y5aiDdPIgoQ> Acesso em 06 de novembro de 2012

Garces, Renato. Resposta Prof  Frazão. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Lb5WYdWCPwU&feature=related> Acesso em 06 de novembro de 2012

Kevinsss80. Comercial Neo Química. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=XJVzolKSyHg> Acesso em 09 de novembro de 2012

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