(Texto ñ corrigido)
A ordem é a mais antiga preocupação
da filosofia política e, se é plausível cotejar a ‘polis’ com o organismo,
então é plausível cotejar a desordem civil com uma doença. As formulações
clássicas que comparam uma desordem política a uma doença – de Platão a, digamos,
Hobbes – pressupõem a idéia médica (e política) clássica de equilíbrio. A
doença vem do desequilíbrio. O tratamento se destina a restaurar o correto
equilíbrio – em termos políticos, a correta hierarquia. (SONTAG, 1994, p. 96)
Nos anos 20, Santa Catarina vivia tempos modernos,
tempos de muitas chegadas tecnológicas importantes, o cinema, a ferrovia, e as
grandes indústrias.
Por causa desse progresso as indústrias
farmacêuticas no Brasil começaram muito
fortes, do Rio de Janeiro sua logística ganhou outros estados e chegando a
Santa Catarina; mergulhou de cabeça nas campanhas de publicidade como todo o
Brasil. Jornais locais e regionais começaram a ganhar muito com a novidade.
As campanhas diziam que indigestões, pesadelos,
dores de cabeça, vômitos e insônias eram combatidas com apenas uma pílula. A verdade
dessa receita milagrosa não é clara, mas as campanhas vendiam muitas promessas
que não poderiam ser cumpridas. Isso é um fato.
O condicionamento psicológico que as campanhas
publicitárias cumpriam na época vem sendo usadas até hoje, as subjetividades
humanas evoluíram, e com essa evolução os anúncios também.
Psicólogos importantes como Maria Cristina Strocchi
e Donald A. Norman afirmam que todas as compras vêm do inconsciente, ou seja,
toda compra é extremamente emocional. Desse ângulo podemos afirmar que é uma
estratégia muito eficaz vender remédios milagrosos em tempos que existiam doenças
complexas para os médicos. A população aceitava os remédios vendidos pelos
fabricantes, pois não era uma obrigação, mas sim uma ajuda que poderiam ter. Ao
menos essa era a mensagem. Já as campanhas do governo eram vistas de outra
forma. A população mais carente via como uma doença implantada pelo governo
para eliminar os pobres, a vacina contra a varíola era obrigatória, essa
imposição é conhecida até hoje como a revolta da vacina.
A gripe hoje viaja
por aviões, as notícias propagam-se quase em tempo real, as pessoas morrem
principalmente em hospitais, em sua maioria péssimos mas integrados a uma rede
de instituições médico-sanitário muito mais densa que a de 1918-1919, e, de uma
forma ou de outra, mobilizada pela saúde pública internacional, incipiente na
epidemia anterior. Essas realidades novas não impediram a repetição de práticas
médicas e comportamentos sociais que nos aproximam daquela outra crise
sanitária, muitíssimo mais grave. As novas realidades incluem a virologia,
disciplina então inexistente, e o conhecimento muito sofisticado dos vírus
causadores dos vários tipos de gripe que acometem os hospedeiros humanos e
outros vertebrados. Isso traz a reboque medicamentos que não existiam e a
perspectiva próxima de uma vacina, que não se conseguiu fazer com os recursos
proporcionados pela microbiologia de 19187, ainda que ela tenha contribuído
para reduzir o papel das doenças na Primeira Guerra Mundial, deixando o
morticínio a cargo, sobretudo das armas, do engenho e da maldade humanas.
(Alvarez, Adriana et al. )
O mundo da época passava por
período de mudanças, a Europa saia da I Guerra Mundial o Brasil por sua vez
vivia processo de urbanização e tentativa de melhoria da saúde pública, por
este motivo negava-se, no meio médico e entre autoridades, inclusive as
brasileiras, o real tamanho da epidemia e sua gravidade para a população
brasileira.
“Como saber quantos morreram? O governo não
ia dizer o número verdadeiro dos mortos para não alarmar. Até hoje, ninguém
sabe ao certo”¹ , sem contar com o que já foi exposto: a ciência da
época não estava preparada e não teve tempo para identificar as causas e muito
menos indicar um tratamento eficaz para a Gripe, há registro em São Paulo de um
médico que indicou até injeção a base de mercúrio puro
¹ NETTO,
Francisco Bettega. O Mez da Grippe. Curitiba, 1981. 35 p.
como tratamento, por isso “muitas das mortes que provavelmente foram
causadas pela Gripe não foram registradas como tal, outras doenças ou causa não
identificada” ², sem contar que na época foram dados diversos nomes
diferentes a doença: Epidemia reinante, peste, gripe epidêmica etc. (Rodrigo
Rosa, p 04)
No
Brasil, a Gripe Espanhola de 1918 assim como outras epidemias do final do
século XIX e começo do século XX, mostraram que as cidades estavam à mercê das
doenças, pelo fato de não ter um estrutura de saúde pública adequada.
Em
vários momentos da história os homens sofreram com doenças que se opuseram
contra o homem de forma agressiva, e tudo por causa do baixo nível de
conhecimento de saúde. Desta maneira as campanhas publicitárias aplicavam sua
composição no primeiro plano de motivações, o primeiro plano consiste pelas
motivações inatas, de natureza biológica, como a fome, sede, sono, atração
sexual. Quando estamos doentes, por exemplo, o corpo manda vários sinais
movendo uma ação inconsciente de se tratar, acontece o mesmo quando a gente
precisa comer, as pessoas sabem que estão com fome pelo mesmo motivo.
É
nessa época que a sociedade brasileira começou a se sentir a vontade de se
automedicar, fazendo tudo conforme a sabedoria popular, que muitas vezes eram
introduzidas pela mídia, seja ela feita pelo boca a boca ou pelas campanhas em
veículos de comunicação. Hoje nós somos campeões em se automedicar, muitas
vezes erroneamente. A Associação Brasileira de Indústrias Farmacêuticas, a
ABIFARMA anuncia em 2012 que 20 mil pessoas morrem todo ano por conta da
automedicação. Assim podemos observar que desde o começo das indústrias
farmacêuticas, não há uma espécie de conscientização da população sobre esses
problemas, porém não podemos esquecer-nos das parcelas de culpa que a mídia, o
estado e as indústrias têm sobre essas mortes, pois os grandes veículos de
comunicação no Brasil não dão nenhum retorno sobre essas estatísticas, e, o motivo
é o mesmo do começo do século XX, a fortuna financeira que recebem.
As afirmações do Dr.
Drauzio de que temos apenas testes in vitro é certamente uma falácia,
demonstrando má intenção clara, cuja origem não se sabe, mas pode ter viés
político-eleitoral ou mesmo comercial, frente a algum possível segmento que se
sinta incomodado em relação às perspectivas abertas com a oficialização da
fitoterapia no SUS. (FEBRAPLAME)
² Op
Cit. 32 p. (tese)
O
estado que não se pronuncia por muitas vezes em relação à mídia, que faz de seus
esforços irem por água a baixo, A Rede Globo, por interesse econômico com as
indústrias farmacêuticas manifestou-se contra o incentivo do governo federal
para os remédios fitoterápicos através do Dr. Drauzio
Varella. Entre outros exemplos que circulam por baixo dos panos da mídia, esse
é o mais patético, o governo por sua vez não se pronuncia diante do prejuízo e
assim joga anos de investimentos no lixo.
A indústria por sua vez, se sai como a moçinha da história, uma vez
que só está ali para ajudar. Suas publicidades com ênfase em bem estar, sempre
usando algum personagem popular e os mais diversos meios de comunicação,
tornando-se uma unidade bem segmentada, comum, em todas as camadas sociais do
Brasil.
O melhor caminho é a conscientização da população da fase de
aprendizagem básica, hoje a projetos contra a violência e as drogas, porque não
projetos contra a automedicação no Brasil? O estado deve fazer algo, seja no
âmbito social pedagógico, social industrial e/ou midiático, o importante é não
deixar de fazer para que mais mortes sejam registradas por culpa de
irresponsabilidades distintas.
Referência
A
Cidade, Blumenau, Janeiro a Dezembro,
1937
A
Cidade, Blumenau, Janeiro, Julho a
Dezembro, 1926
A
Cidade, Blumenau, Janeiro a Dezembro,
1930
Opinião
da FEBRAPLAME, Federação das Associações de Pesquisa com Plantas Medicinais,
Sobre os Comentários do Dr. Drauzio Varella na Imprensa. São Paulo: ABH, Outubro, 2010. Disponível em: <http://www.abhorticultura.com.br/informa/Default.asp?id=7707>
Acesso em 08 de novembro de 2012
Governo
incentiva distribuição de medicamentos fitoterápicos pelo SUS. São Paulo: Amaivos, Uol. Disponível
em: <http://www.isaude.net/pt-BR/noticia/30457/saude-publica/brasil-registra-20-mil-mortes-causadas-por-automedicacao-anualmente> Acesso em 10 de novembro de 2012
Sbstrndade,
Dr. Drauzio mostra o químico Frazão que
fabrica produtos à base de plantas. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=y5aiDdPIgoQ>
Acesso em 06 de novembro de 2012
Garces,
Renato. Resposta Prof Frazão. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Lb5WYdWCPwU&feature=related>
Acesso em 06 de novembro de 2012
Kevinsss80.
Comercial Neo Química. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=XJVzolKSyHg> Acesso em 09 de
novembro de 2012